KAFKA E A BONECA VIAJANTE

A inusitada e singular estória de Franz Kafka e a boneca viajante

 

  



Publicado em 2 de set de 2015

Contação de história - "Kafka e a boneca viajante", do livro de
Jordi Sierra i Fabra, com Onides Bonaccorsi Queiroz

SINOPSE
Um ano antes de sua morte, Franz Kafka viveu uma experiência singular.
Passeando pelo parque de Steglitz, em Berlim, encontrou uma menina chorando porque havia perdido sua boneca.
Kafka ofereceu ajuda para encontrar a boneca e combinou um encontro com a menina no dia seguinte no mesmo lugar.
Nao tendo encontrado a boneca, ele escreveu uma carta como se fosse a boneca e leu para a garotinha quando se encontraram. A carta dizia : “Por favor, não chore por mim, parti numa viagem para ver o mundo. ”.
Durante três semanas, Kafka entregou pontualmente à menina outras cartas , que narravam as peripécias da boneca em todos os cantos do mundo : Londres, Paris, Madagascar…
Tudo para que a menina esquecesse a grande tristeza!
Esta história foi contada para alguns jornais e inspirou um livro de Jordi Sierra i Fabra ( Kafka e a Boneca Viajante ) onde o escritor imagina como como teriam sido as conversas e o conteúdo das cartas de Kafka.
No fim, Kafka presenteou a menina com uma outra boneca.
Ela era obviamente diferente da boneca original.
Uma carta anexa explicava: “minhas viagens me transformaram…”.
Anos depois, a garota encontrou uma carta enfiada numa abertura escondida da querida boneca substituta.

O bilhete dizia:

“Tudo que você ama, você eventualmente perderá, mas, no fim, o amor retornará em uma forma diferente”.



Kafka e a boneca viajante | Kafka y la muneca viajera. de Jordi Sierra I Fabra. Ilustrações Pep Montserrat

Um ano antes de sua morte, Franz Kafka viveu uma experiência singular. Passeando pelo parque de Steglitz, em Berlim, encontrou uma menina chorando porque havia perdido sua boneca. Para acalmar a garotinha, inventou uma história – a boneca não estava perdida, mas viajara, e ele, um ‘carteiro de bonecas’, tinha uma carta em seu poder que lhe entregaria no dia seguinte. Naquela noite, ele escreveu a primeira de muitas cartas que, durante três semanas, entregou pontualmente à menina, narrando as peripécias da boneca vividas em todos os cantos do mundo.
Durante anos, Klaus Wagenbach, um estudioso de Kafka, procurou a menina pela região próxima ao parque, investigou com os vizinhos, colocou anúncio nos jornais, mas nunca conseguiu encontrar a pista da menina ou dos originais das cartas. Segundo Dora Dymant, sua última companheira, Kafka se envolveu com tanta seriedade na tarefa de consolar a pequena Elsi como se escrevesse mais um de seus romances ou contos que nunca foram publicados em vida. Toda essa inusitada situação, verdadeira ou não, acabou inspirando Jordi Sierra a escrever este livro e inventar as supostas cartas, criando desta forma um final imaginário para esta estranha e bela história.
O livro é dividido em quatro partes: primeira ilusão: a boneca perdida – quando Kafka encontra a menina chorando no parque; segunda fantasia: as cartas de Brígida – quando se torna o carteiro de bonecas, e passa a escrever as cartas da então boneca perdida que se tornou viajante; terceira ilusão: o longo percurso da boneca viajante – quando começam as cartas de despedida da boneca; quarto sorriso: o presente – quando há a aceitação e superação da perda.

“Quanto a mim, permiti-me a transgressão: inventar essas cartas, terminar a história, dar-lhe um final imaginário. Pode ter sido este ou outro qualquer, não acho que seja muito importante. O que aconteceu é tão belo em si mesmo que o resto carece de importância. A única coisa evidente é que aquelas cartas devem ter sido mais lúcidas que as recriadas por mim.”

Por que a dor infantil é tão poderosa?
Mas, enfim por que existe tanto poder na dor infantil? Essa indagação movimenta as peripécias com que o personagem se depara tentando aplacar a sua própria angústia em ver aquela criança inconsolável diante da perda de sua boneca. E por que será que isso acaba também nos envolvendo? Talvez essa dor nos remeta ao desamparo e à solidão que um dia já experimentamos e por compaixão nos aflija e nos solicite para algum tipo de auxílio, ou quem sabe por solicitar de nós uma resposta, uma prontidão, afinal, quando nos propomos a trabalhar com crianças assumimos um pouco esse papel de correspondente, tentando, de algum modo, nos comunicar com a criança e seu mundo, não é esse o desafio ao qual somos freqüentemente convocados? Afinal, como diz o autor: – Salvar uma menina não é salvar o mundo?
– José Carlos Neves Machado (médico pediatra), trecho da resenha sobre o livro “Kafka e a Boneca Viajante”. in: Boletim – Deptº de Psicanálise da Criança, Instituto Sedes Sapientiae. Ano III, nº 17, agosto 2010. 
ILUSTRAÇÕES E TRECHOS DO LIVRO
“[…] você deve saber que viver é seguir sempre em frente, aproveitar cada momento, cada oportunidade e cada necessidade. Você também vai fazer a mesma coisa daqui a alguns anos. As pessoas e as bonecas são feitas de sentimentos e emoções que é preciso ir usando aos poucos. São nossa energia vital. Depois desses anos a seu lado, sou a boneca mais feliz que existe, cheia de energia. Quero que fique contente, e muito, porque tudo que sou devo a você. Você cuidou de mim, me ensinou muitas coisas, me amou e me fez ser uma boa boneca. Agora que me preparo para iniciar uma nova vida, a partida foi triste por deixá-la, mas bonita porque graças a você sou livre para fazer isso.”


Kafka e a boneca viajante | Kafka y la muneca viajera. de Jordi Sierra I Fabra. Ilustrações Pep Montserrat
“Não sabia o que fazer. As crianças eram um completo mistério, seres de alta periculosidade, um conjunto de risadas e lágrimas alternadas, nervos e energia à flor da pele, perguntas sem fim e exaustão absoluta.”


“… quanto a mim, seria incapaz de matar um leão ou um elefante. Totalmente incapaz. Para que destruir uma vida? Esses animais selvagens são tão lindos, Elsi. Tão lindos e nobres em sua liberdade. A natureza é tão pródiga com seus filhos. Às vezes percebo que o mundo é o lugar mais bonito que existe, e vejo a imensa sorte que temos de viver nele…”

“O rosto de Elsi era um poema, uma canção. Toda a fascinação da infância flutuava em seus traços e toda a inocência da sua idade, talvez a melhor, rebentava naquela sinfonia de cores e enorme alegria.”

“Tudo que você ama, você eventualmente perderá, mas, no fim, o amor retornará em uma forma diferente”

  Dados do Livro :– Jordi Sierra I Fabra, em ‘Kafka e a boneca viajante’. [tradução Rubia Prates Goldoni]. São Paulo: editora Martins Fontes, 2008.

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